Artigo - Atena Editora

Artigo

Baixe agora

Livros
capa do ebook ATRAVESSANDO O SAMBA DO “ESTADO NOVO”: OUTROS CARNAVAIS

ATRAVESSANDO O SAMBA DO “ESTADO NOVO”: OUTROS CARNAVAIS

Quando se vê o mundo pelos olhos da cartilha ideológica do “Estado Novo”, tudo se passa como se, por encanto, o reino da justiça social houvesse baixado dos céus à terra graças à obra providencial do ditador Getúlio Vargas. Como os agentes estatais teriam, supostamente, banido a luta de classes, todos eram convocados a se irmanar, num ambiente de congraçamento e de conciliação social.  Ideólogos e artistas, em determinados casos, se deram as mãos para entoar juras de amor à pátria e ao chefe da nação. Entre eles, o maestro Heitor Villa-Lobos puxava o coro da celebração do novo regime. Nem tudo, porém, foram flores em tempos de “Brasil grande”. Por mais que os defensores do governo estado-novista insistissem em bater na tecla de uma espécie de samba de uma nota só, configurando um pretenso coro da unanimidade nacional, vozes destoantes também se manifestaram em meio à repressão generalizada. E elas se fizeram ouvir inclusive em momentos festivos, atravessando, de certo modo, o samba do “Estado Novo” em pleno carnaval. De uma maneira ou de outra, como se percebe em muitas composições carnavalescas, elas chegaram a traçar linhas de fuga em relação ao discurso estatal. Faces contrastantes, menos risonhas e menos róseas, da realidade daquela época emergiram, então, compondo uma polifonia que mostra, uma vez mais, que nenhuma sociedade disciplinar reúne condições suficientes para silenciar ou abafar por inteiro as falas dissonantes. Nessas circunstâncias, a ideologia do trabalhismo orquestrada pela ditadura estado-novista não logrou transformar todos os sambistas em correias de transmissão ou câmaras de eco dos valores por ela incensados. O mundo da folia que o diga.

Ler mais

ATRAVESSANDO O SAMBA DO “ESTADO NOVO”: OUTROS CARNAVAIS

  • DOI: 10.22533/at.ed.63820081212

  • Palavras-chave: sambas carnavalescos, Estado Novo, Heitor Villa-Lobos, conciliação nacional, vozes destoantes

  • Keywords: carnival sambas, Estado Novo, Heitor Villa-Lobos, national conciliation, dissonant voices

  • Abstract:

    When one sees the world through the eyes of ‘Estado Novo’s’ ideological primer, everything looks as if, by magic, the kingdom of social justice had descended from heaven to Earth thanks to the providential work of dictator Getúlio Vargas. As State agents had supposedly banned class struggle, everyone was summoned to come together, in an atmosphere of harmony and social conciliation.  Ideologues and artists, in certain occasions, joined hands to chant pledges of love for their motherland and the head of the nation. Among them, conductor Heitor Villa-Lobos led the choir in celebrating the new regimen. However, not everything was flowers in times of ‘great Brazil.’ As much as the supporters of the ‘Estado Novo’ administration insisted on hitting the key of a single note samba, making up an alleged chorus of national unanimity, dissonant voices also expressed themselves amid widespread repression. They made themselves heard even in festive moments, out of tune, so to speak, with the ‘Estado Novo’s’ samba at the height of carnival. In one way or another, as seen in many carnival songs, they even trace lines of escape from the State discourse. Contrasting faces, less smiling and less rosy, of the reality of that time then emerged to compose a polyphony that shows, once again, that no disciplinary society has enough conditions to silence or stifle out dissonant words. In these circumstances, the ideology of labor orchestrated by the ‘Estado-Novo’ dictatorship did not succeed in transforming all samba composers into transmission belts or echo chambers of the values it incensed. The world of revelry is its witness.

  • Número de páginas: 15

  • Kátia Rodrigues Paranhos
Fale conosco Whatsapp